Publicado em: segunda, 15 de março de 2021 às 15:28
Protestos por todos e para todos
Imagine-se a dimensão que teria um movimento conjunto, aliando todos os setores da sociedade e por todo o país, com o objetivo único de ampliar, de uma vez por todas, a imunização
Na mesma semana pudemos acompanhar protestos e manifestações que são completamente justos e adequados a esse peculiar momento que tem despertado e propagado todo tipo de sentimento, da depressão ao ódio. De positivo, nada – ou pouco, para os mais otimistas.
Por um lado, em consequência das rígidas restrições impostas pelo Governo do Estado, empresários organizaram carreatas e outros movimentos, aqui e em diversas outras regiões do Estado, exigindo a reabertura imediata do comércio.
Absolutamente justo. Não é egoísmo, porque nisso há também uma preocupação com a manutenção do emprego, com o recolhimento de tributos e com a rotina de todos nós, enfim. Não há como contrariar a ideia defendida por essa parcela tão relevante da sociedade.
Por outro lado, especialmente em Porto Alegre, organizou-se um aplauso coletivo, às 19h30min da sexta-feira do último dia 12 de março, em homenagem aos profissionais da saúde que atuam na linha de frente de combate à pandemia.
Justo, da mesma maneira. Afinal, os hospitais estão superlotados e esses profissionais estão há um ano vivendo, dia-a-dia, os horrores de tudo isso.
Ainda que seja utópico, imagine-se a dimensão que teria um movimento conjunto, aliando todos os setores da sociedade e por todo o país, com o objetivo único de ampliar, de uma vez por todas, a imunização.
Porque, pelo que se sabe até agora, é a vacinação em massa da população que permitirá a queda substancial do número de internações e mortes decorrentes da Covid-19 e, com isso, a retomada gradual de todas as atividades ocorrerá naturalmente e a circulação de pessoas será normalizada, ou quase isso.
Quando isso acontecer, será positivo para o empresário, que poderá retomar com mais afinco a sua atividade; para os trabalhadores, porque surgirão vagas de emprego; para os cofres públicos, porque aumentará a arrecadação; e para a sociedade, como um todo, que poderá retomar suas aulas em escolas e universidades, retornar às academias e às bibliotecas, assim como aos restaurantes, aos cinemas etc.
Este, então, deveria ser o objetivo de todos: vacinar a maioria da população, o mais rápido possível.
E todos, unidos, fariam uma pressão muito mais significativa do que ficar cada setor, apenas com os seus, defendendo sua posição, por mais justa e defensável que ela seja.
Mesmo que tenha havido, em geral, um aumento significativo no número de leitos de UTI e enfermaria, até para isso há um limite. Além de haver uma quantidade limitada de profissionais especializados e de insumos disponíveis no mercado, a maioria dos internados em estado grave não sai com vida, segundo as estatísticas do Estado.
Toda essa energia, da população em geral e, especialmente, dos gestores públicos, deveria ser canalizada para a aquisição e administração de vacinas. Afinal, elas estão aí e podem resolver os problemas de todos, e não só de alguns. É o tal interesse público, que deve orientar todas as decisões de quem exerce a administração pública.
Países como Estados Unidos e Sérvia já vacinaram cerca de 30% da sua população. Israel, um caso à parte, 100%. O Brasil recém atingiu 5%, sendo que, no Rio de Janeiro, a aplicação das vacinas foi interrompida por falta de insumo. Faltou vacina.
Nem dá para dizer que só países ricos ou de continentes mais prósperos poderiam atingir percentual maior. O Chile, não muito longe daqui, já vacinou mais que os Estados Unidos, ultrapassando 34% da população e mostrando que é possível avançar, mas, antes de qualquer coisa, é preciso ter vontade.
Claro que cada país vive uma realidade própria e o Brasil possui características muito especiais, principalmente devido a seu tamanho, o número de habitantes e a dificuldades logísticas, por exemplo.
Mas, se todos os protestos e manifestações até agora foram justos – e foram –, o mais justo e, principalmente, assertivo de todos seria pela obtenção de vacinas, como se não houvesse amanhã. Porque para milhares de nós não haverá mesmo, por falta de saúde. Enquanto isso, a economia definha, pelo mesmo motivo.